Epistemologia e a Nova Direita

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Gabriel von Max, “Reading Monkey,” circa 1900

4,806 words

English original here [2]

“Se constrói-se uma ilusão enquanto tal, a vontade – se ela quer continuar a existir – deve construir uma nova” – Nietzsche

Após examinar as duas resenhas da American Renaissance postadas no Counter-Currentes em 1 de agosto de 2012 eu não pude deixar de sentir como eu sempre sentia quando eu também era parte da academia americana. Eu ficava assombrado pela inabilidade dos pesquisadores em considerar o papel representado pela ordem prevalescente de conhecimento em sua conceitualização e implementação de pesquisa. A maioria das pessoas da academia fala apenas das “hipóteses intelectuais” de pesquisadores, buscando desentranhar os “preconceitos e equívocos” sustentados por aqueles envolvidos no estudo que possam afetar suas descobertas. Porém, os próprios entendimentos essenciais e culturais do humano – e do que significa ser humano – jamais são questionadas, e a realidade burguesa liberal (hoje monoliticamente antirracista, antibranca e multicultural) acrescenta outra pedra a sua fortaleza. Assim, o estudo de gêmeos não tem necessidade de criticar modelos burgueses de realização; como o estudo sobre altruísmo entendia a normalidade, legitimidade e decência do multiculturalismo.

É claro isso faz muito sentido quando consideramos que cada modo de vida sempre educou seus membros a incorporar seu critério particular de ser humano. Isso somente se torna um problema quando este critério de ser humano cria degenerados mentais ou físicos; ou quando homens como nós nos situamos fora da ordem dominante de conhecimento, ou episteme, apenas para sermos cercados pela realidade esquálida que ela cria.

Os objetos de pesquisa, especialmente na antropologia, meu antigo campo, são sempre já presumidos como sendo burgueses e liberais, mesmo quando eles existem em um dos poucos espaços que ainda não estão sob ontrole do liberalismo burguês, porque a maioria dos americanos em qualquer nível intelectual possui dificuldade em contextualizar qualquer coisa que eles saibam. Não é que é simplesmente fácil demais assumir que a mutilação genital feminina é abominável e um “problema” para todas as mulheres; que as pessoas no Irã querem apenas ser livres; ou que os fascistas italianos são paroquiais, homofóbicos e racistas; mas que os sujeitos culturais burgueses americanos e ocidentais – enquanto seres humanos – vivem, creem, conceitualizam, e portanto criam o mundo, nos termos de uma episteme específica.

Para um racialista, raça é tudo; para um culturalista, é a cultura; para mim, o conhecimento é tudo – especialmente como ele é produzido e como ele opera para motivar comportamentos. E quanto a forças políticas e econômicas? O materialismo é uma ideologia – um esquema que torna algumas coisas cognoscíveis e possíveis e outras coisas incognoscíveis e impossíveis. É o mesmo para a história, biologia, física, psicologia e cada disciplina na academia. Cada disciplina e ideologia opera dentro de uma episteme. Cada episteme é um conjunto coerente de valores e valorações que limitam e dirigem as condições da possibilidade humana. Epistemes o fazem por causa de um fato básico sobre o animal humano: nós somos uma espécie narrativamente impulsionada. Nós dizemos a nós mesmos quem, o que, onde, quando, e como, nós somos. Não há um único aspecto do comportamento humano que não recebe conteúdo através de uma narrativa. Comer, procriar, defecar, dormir, apenas para mencionar os comportamentos mais naturais, todos fazem sentido por causa da narrativa. Dizer isso não diminui a importância dos aspectos materiais de ser humano. Ao invés, aponta a um modo mais profundo de entender porque fazemos o que fazemos.

Enquanto outros como Alain de Benoist, Alexander Dugin, Pierre Krebs, Guillaume Faye e Tomislav Sunic (sem mencionar Nietzsche, Evola e Sorel) discutem o liberalismo e a forma de vida burguesa epistemicamente, ninguém na Nova Direita americana forneceu um esquema para compreender como o conhecimento opera e como o conhecimento burguês nos mantém enredado em sua rede. Estranhamente este é um problema inerente ao nome “nova direita” e sua contradistinção da “velha direita”. Pois a que apontamos com tal distinção é nada menos que uma transição epistêmica, ou revolução conceitual.

Enquanto alguns acadêmicos entre nós ainda se apegam à idéia de que ler os clássicos ou nossos contemporâneos é importante apenas para sabermos o que eles disseram (usualmente para serem refutados e melhorados), vendo nosso problema epistemicamente – como um problema de conhecimento – torna importante ler o pensamento da Nova Direita de modo a continuar a tarefa – começada pela clássica e contemporânea Nova Direita europeia – de criar uma nova episteme, em resumo, uma nova ontologia que crie as possibilidades conceituais de nossa grandeza. Eu proponho que fazê-lo dará à Nova Direita americana um ímpeto revolucionário, e enquanto tal, um propósito superior do que meramente embranquecer a América.

Em essência, este trabalho está argumentando em duas frentes. Na primeira, é uma explicação um tanto simplista de como o conhecimento é produzido e como ele funciona. É uma curta síntese de uma vida acadêmica de teoria e filosofia do conhecimento, poder e transvaloração. Ela nos convida a compreender as consequências de nosso uso continuado de conceitos burgueses, liberais e modernos de “ser humano”. Na segunda, ela nos convida a sermos mais como nossos pares europeus, que com sucesso herdaram e construíram sobre o pensamento de Nietzsche, Evola e Sorel (meus Três Grandes – sinta-se livre para acrescentar Schmitt, Ludovici, Jünger, etc.) para combater o homem moderno e pós-moderno em uma guerra de conhecimento e conceitos. Por que isso nunca aconteceu aqui, até agora, é tornado claro em Homo Americanus de Sunic, e talvez em Por que não há Socialismo nos Estados Unidos de Werner Sombart. Talvez os americanos “não tenham a aptidão” para criticar o homem burguês, mas eu me recuso a crer que nossa Nova Direita queira ser “americana”. De outro modo, nós estaríamos simplesmente fazendo campanha para os republicanos e estaríamos contentados com “retomar nosso país”.

Antes que nos atolemos discutindo epistemes, vamos tentar compreender como o conhecimento opera.

Como o conhecimento opera?

O conhecimento é afetivo. Ele produz ação. Pura e simplesmente, ele é a história necessária para motivar uma espécie narrativamente orientada – como a nossa – a agir.

Ele é a força uqe molda nosso daemon em formas e direções úteis para qualquer seja o rebanho entre o qual vivamos. Gilles Deleuze e Felix Guattari, pós-estruturalistas franceses que teorizaram o impacto do capitalismo e do desejo capitalista no corpo, usaram um modelo territorial para explicar como nossa energia corpórea, puissance, ou o que os gregos chamaram de daemon, é codificado e disciplinado a desejar por diferentes formas de expressão e redenção, na forma do pouvoir. (É possível conceber a expressão metaforicamente como forma e redenção como conteúdo – mas esta é muito mais importante e imbuída de valor do que isso. Ela é moral em conteúdo, mas ela é mais uma questão de que processo de acumulação é considerado óptimo em uma forma de vida. Pode ser dito que a vida grega homérica oferecia redenção heroica, o cristianismo medieval oferecia redenção espiritual, e a modernidade liberal burguesa oferece a redenção material para aqueles que abracem mais plenamente seu sistema de verdades e valorações). Qualquer um que tenha lido Genealogia da Moral de Nietzsche sabe que ele explicou a função do conhecimento moralista em termos similares, mas deixando de lado a linguagem pós-modernda hipnótica de Deleuze e Guattari.

Essa energia primordial e corpórea talvez originalmente existia como modo de garantir a procriação e a autopreservação, o que é comumente chamado de “lutar ou correr”. Com o desenvolvimento da linguagem, porém, ela se tornou amarrada com a comunicação e a manipulação social do desejo. Ela foi, nos termos de Deleuze e Guattari, desterritorializada – trazida de seu domínio corpóreo de sexo e violência – e reterritorializada em algo útil para um agregado de pessoas mais complexo.

Ainda que essa descrição nos faça visualizar um processo repressivo e manipulativo, na verdade ele é criativo e gentil. Nietzsche falou sobre a vontade da mente de ordenar, organizar, controlar, reprimir, dirigir, impor limites e finalmente de disciplinar a informação sensória. Deleuze e Guattari subsumiram essa forma da vontade na produção corpórea de desejo, assim explicando que a subordinação e ordenamento da puissance não é uma imposição cursória nos modos nos quais se espera que vivamos, mas a própria produção da realidade e experiência vivida. Da perspectiva do desejo, a vida (puissance) e o governo da vida (pouvoir) são uma e a mesma coisa. Com a impossibilidade da coisa-em-si na mente, o pouvoir seria a única maneira pela qual nós podemos conscientemente conhecer o desejo – como um desejo por. Em outras palavras, o conhecimento dirige, organiza e disciplina o desejo, e ao fazê-lo normaliza o governo da vida. Assim, nós não podemos ser liberados desse processo, mesmo que o liberalismo tente nos fazer crer de outro modo, como eu explicarei abaixo.

De onde vem o conhecimento?

O conhecimento vem na forma de narrativa, seja popular, acadêmica, política, artística ou religiosa. Para epistemologistas, além de modelos tentados de conhecimento-implementação interpessoal (por exemplo, por que o capitalismo é capaz de nos manter buscando uma série infinita de objetos de consumo “definidores de personalidade”, ao ponto de nós efetivamente liberarmos endorfina quando compramos e consumimos), os alvos mais valiosos de investigação são os regimes de verdade que produzem a informação mais útil e importante na episteme. Assim, no mundo burguês moderno, as ciências atraem a maior atenção. Tendo vindo a essa forma de investigação altamente filosófica a partir dos Estudos Afro-Americanos, eu sempre estive mais preocupado com a criação de altruísmo do que com a criação de diagnósticos psicológicos e médicos. Em qualqeur caso, um regime de verdade é um método de produzir, impor e proteger a verdade e as bases epistêmicas de ser humano. Foucault cunhou o termo “regime de verdade” de modo a tornar sensata sua hipótese de que a ciência e o conhecimento científico estão ligados a fontes de poder epistêmico. Não são apenas política e economia que controlam o que conhecemos, mas um sistema que que tornam nossas crenças verdadeiras e justificam seu status como conhecimento. Porque a vasta maioria dos homens modernos não estão lendo Foucault, mas sim assistindo a Fox News, eles ainda opdem supor que o status epistemológico das afirmações de conhecimento são independentes das operações de poder. Para nós, porém, é imperativo que começamos a pensar nosso projeto como um rompimento epistêmico.

Interessantemente, Foucault foi motivado em seu intelectualismo por Nietzsche, e foi um dos principais proponentes do “Nietzsche como democrata pós-moderno”. Não obstante, o que permanece do “nosso Nietzsche” em Foucault é normalmente colocado em ótimo uso. Por exemplo, em “Verdade e Poder”, Foucault explica que o problema político fundamental (com o qual nos deparamos, nós da Nova Direita) não é meramente criticar o que atualmente se passa por verdade, ou mudar a consciência das pessoas, mas separar “o poder da verdade das formas de hegemonia, social, econômica e cultural, na qual elas operam atualmente”. Em outras palavras, nós devemos começar a criação de um novo regime de verdade; e a questão política se torna uma questão de uma nova narrativa. Onde Nietzsche está presente, aqui, é na suposição de que a verdade recebe poder epistemicamente e que qualquer vitória para nós só pode estar fundada em uma nova episteme.

Como estamos começando a ver, o conhecimento opera dirigindo nossas energias primais, e o conhecimento é produzido em acordo com as bases epistêmicas de formas de vida. O conhecimento é sempre um sistema que faz sentido. Enquanto tal, algumas coisas são cognoscíveis e outras são incognoscíveis. Outrora, nossa condição atual estava para além do reino da possibilidade.

As coisas mudam, porém. Há um pequeno punhado de estudiosos associados com a proeminente professora da Universidade de Stanford Sylvia Wynter que estudam as transições epistêmicas que culminaram com a criação da escravidão e do humano racial. Partindo do uso papal de Aristóteles para “entender” os nativos do Novo Mundo, para a transformação do feudalismo em capitalismo, eles leem a história da espécie como um caminho em direção ao altruísmo universalizado. Para esses estudiosos, a modernidade é um problema, mas não como ela é para nós. Enquanto nós experimentamos a modernidade como uma época construída sobre a domesticação do homem europeu e a destruição de suas tradições e capacidades para a auto-defesa violenta (entre outras coisas), eles experimentam a modernidade como aqueles que estão desesperados para crer na Revolução Francesa. Em outras palavras, eles querem que o Ocidente seja mais moderno – mais livre, igualitário, e universalmente fraternal. Eu menciono isso não apenas para ressaltar como é possível compreender nossa situação epistemicamente, mas para demonstrar como o regume de verdade do antirracismo ajudou sua causa. Pois nenhuma das críticas acadêmicas dirigidas a Wynter e seus companheiros jamais mencionou a natureza política de sua pesquisa ou questionou a moralidade de promover o altruísmo universal como progressivo. A episteme (e seus vários regimes operativos de verdade) tornaram essas preocupações incognoscíveis.

O linguista Philip Lieberman, uma das fontes favoritas de Wynter, buscou explicar o relacionamento entre valoração e altruísmo descobrindo de onde os dois entram na experiência humana. Seu trabalho é assombroso por duas razões: o quão claramente ele explica o poder da narrativa e a relação entre altruísmo e moralidade, e por falhar em contextualizar seu trabalho epistemicamente. Resultando do desenvolvimento biológico do cérebro e das ferramentas supralaríngeas necessárias para produzir a fala humana, ele deduziu que um novo tipo de capacidade cognitiva evoluiu. Essa era a habilidade humana de construir linguisticamente comportamentos codificaos como os controlados por sistemas de moralidade e ética. “Esses desenvolvimentos nos permitiram induzir os modos de altruísmo que nos ligam como grupos. Em consequência…no lugar de programas genéticos que regulam os comportamentos de todas as espécies orgânicas, nós desenvolvemos…programas culturalmente específicos pelos quais nossos comportamentos humanos – cognoscitivos, afetivos e acionais – vieram a ser…regulados”.

Essa é a mesma conclusão alcançada por Nietzsche. Após primeiro explorar o elo entre linguagem e consciência, e concluir que o pensamento consciente, aquilo que assume a forma de linguagem, é a forma mais superficial de pensamento porque ela é construída apenas para conectar uma pessoa a outra, Nietzsche então busca compreender como a consciência está conectada a formas sociais humanas. “A consciência”, ele diz, “pertence não à existência do homem como um indivíduo, mas sim à comunidade e aos aspectos gregários de sua natureza; ela é desenvolvida apenas em relação a sua utilidade para o rebanho. Consequentemente, nós somente podemos nos conhecer através do que é mediano e cognoscível desde a perspectiva do rebanho. Nós conhecemos exatamente tanto quanto seja útil para o rebanho humano”.

Lieberman continua sua explicação do desenvolvimento do altruísmo para demonstrar como a tecnologia permitiu que o humano saísse de suas pequenas comunidades para povoar cada continente e para canalizar as forças da natureza. Nós o fizemos, porém, tendo ultrapassado a estreiteza dos modelos atruísticos ainda operacionais dos séculos anteriores. Enquanto a escravidão, por exemplo, era outrora um componente universal das formas de vida humanas, ela é agora “universalmente ilegalizada” (graças a nossos progressistas sistemas de ética e moral). Infelizmente, ele diz, a raça, a maldição de uma de suas variantes posteriores – a escravidão racial americana – ainda permanece “inconquistada”.

Ao falar assim, Liberman demonstra não apenas que os sistemas ético-comportamentais eram narrativamente impulsionados, mas também que eles continuam a ser. Pois em lugar algum em seu livro sobre a evolução dos comportamentos altruístas e sua relação com a moralidade ele sente a necessidade de quantificar suas próprias posições morais – nem seu uso dessas posições para justificar a ideia de que a espécie está progredindo por causa de sua aversão ético-moral à escravidão. Nem, obviamente, ele sente a necessidade de explicar por que o “preconceito racial” é abominável.

De fato, a linguagem não é epifenomenica em relação às estruturas sociais nas quais ela opera, mas uma parte essencial dessas estruturas. Alexander Dugin afirma que o humano não é derivado de qualquer coisa-em-si mas da política. O sistema político, ele diz, “nos dá nossa forma”. Este é um processo narrativamente impulsionado, dado que “o sistema político possui um poder intelectual e conceitual…para moldar o paradigma, integrado na sociedade através de instituições estatais”. Esse paradigma, ou episteme, ele continua, é o que “nos constitui…a Política nos fornece nosso status político, nosso nome, e nossa estrutura antropológica”. Ele conclui sua demolição epistêmica da primazia do homem burguês explicando que a transição do Estado tradicional para o moderno não foi apenas marcada por uma transformação de instituições políticas mas por uma “transformação do homem ao nível mais fundamental”. Cabe a nós, ele diz, nos movermos similarmente para além da concepção moderna (e pós-moderna) operativa de nossa espécie. Fazê-lo, porém, não pode ser alcançado materialmente.

Fernand Hallyn concorda, propondo que “estruturas de significação” organizem “poeticamente”, isto é, através da linguagem e da gramática, para fornecer, entre outras coisas, as fronteiras e limites entre “nós e eles”. Ele chama esse processo de “poética do propter nos” – o “nós” por quem “nós” agimos. Para o desapontamento da Nova Direita americana, Francis Parker Yockey compreendeu que a raça é um conceito que só pode ser entendido no contexto do liberalismo. Como Michael O’Meara eplica, “o conceito científico de raça emergiu como a visão auto-interessada da burguesia anti-cultural, cujo materialismo negava a importância do espírito, da alma e da identidade – desprezadas não apenas como formas de privilégio aristocrático, mas como meros subprodutos superestruturais de um mundo inerentemente ‘irracional'”. Em outras palavras, o conceito do humano biologicamente racial nos deixa irrevogavelmente amarrados à forma de vida que tornou possível este conceito.

Pierre Krebs faz uma abordagem similar da questão de povos e raças. Como um europeu, Krebs tem toda uma vida de interação com aqueles grupos culturais e linguísticos fechados que se entendem como povo. Esses povos hoje se tornam a base das resistências europeias à padronização. Assumindo sua perspectiva, Krebs é capaz de selecionar diversos regimes de verdade – história, humanidade e mesmo raça – e mostrar como seu encaixe epistêmico não apenas determina seu poder criativo (pense: a metodologia sempre gerará os resultados que ela foi feita para produzir) mas também problemas para aqueles de nós que buscam viver em uma sociedade “racial” e não em uma multirracial ou multicultural. No caso da Europa, a “brancura” é difícil de se vender. Ela é americana demais – associada demais à demolição capitalista da singularidade e da particularidade para fazer sentido – ligada epistemicamente à América em excesso, isto é.

A critica de Krebs à raça deriva de uma abordagem epistêmica de nosso problema e de uma leitura correta de Nietzsche. Krebs é consciente, como Heidegger disse, que nomear uma coisa é chamá-la à existência. Se nós nos chamarmos à existência através das verdades epistêmicas do mundo que buscamos destruir, nós seremos finalmente menos bem sucedidos do que presumimos. Pois os conceitos que usamos atualmente para conhecer e criar o homem e o mundo estão inerentemente ligados à episteme que combatemos. Nestes termos, a insistência de Nietzsche de que pensemos diferentemente de nossos inimigos se torna menos abstrata, como é a chamada de Sunic por descolonização mental.

Com a explicação de Lieberman e Wynter sobre a origem e funcionamento do altruísmo acima, nós temos um exemplo decente de como os regimes de verdade liberal operam – e um exemplo irônico, considerando o quão prontamente eles selecionam e escolhem o que atacar na modernidade. Para prosseguirmos em direção a uma conclusão, eu quero contrastar como o liberalismo e o fascismo compreender o conhecimento. Isso também tornará minha posição mais clara.

Como o liberalismo entende o funcionamento do conhecimento?

O conhecimento, como tudo mais na forma liberal de vida, foi castrado e empacotado para consumo de massa. Ele é seguro. Ele é horizontal. Ele é neutro. Ele não tem valor e não tem ligação com o poder, muito menos com regimes de verdade. A suposta neutralidade do conhecimento é aparente quando dizem aos pais que “ler é essencial para o desenvolvimento de seus filhos”. Primeiro, desenvolvimento é um dos conceitos favoritos do regime de verdade psicológico liberal. Ele inevitavelmente trará à existência um tipo particular de pessoa – um cujas conquistas serão medidas monetariamente e cuja felicidade será medida por uma falta de agressão, violência ou pensamento excessivamente crítico. Em segundo lugar, ler jamais possui valor neutro. Cada palavra que passa pelos nossos olhos e ouvidos é construída para impactar o fluxo de desejo – para fazer você se mover, e normalmente em direção a um shopping. O liberalismo burguês nos faz acreditar que o conhecimento é neutro, e então nos faz matar uns aos outros por um X-Box. Em resumo, o conhecimento liberal não possui qualquer função além de ser consumido.

O liberalismo herdou o que Nietzsche descreveu como o regime de verdade original: o Deus judaico-cristão. A verdade recebeu uma fonte, e uma tão infalível que questioná-la significaria queimar pela eternidade. A ciência moderna, com seu raciocínio teleológico e poder criativo herético, herdou o trono de Deus como fonte única de verdade. Como Deus, ela também cria seres a sua imagem: frouxos psicologizados, automatos geneticamente determinados, e escurinhos etnicamente relativos mas “mais reais do que brancos”.

A ciência que nos dá essas verdades acredita sem ironia que suas metodologias são apolíticas e não relacionadas com os resultados que sempre milagrosamente demonstra que o humano é inerentemente burguês. (Ops, vê quão fácil é escorregar? O humano DEVE por definiçã oser burguês, pois nada pode preexistir a sua conceitualização.) O mais óbvio e egrégio dos ofensores científicos é a História. Pode-se notar que eu jamais escrevo história. Aqueles com um sentido para o “problema da História”, aqueles talvez apenas parcialmente epistemicamente resignados, dirão, “a história é o que realmente ocorreu, enquanto a História é aquilo que escrevemos sobre isso”, mas eventos não fazem História – apenas historiadores fazem; e a História não é sobre nada senão valoração.

Um exemplo perfeito de como a Nova Direita tenta abordar esse problema epistêmico é o ensaio de Greg Johnson sobre revisionismo do holocausto. Primeiro, o dr. Johnson separa “história de Historiografia”, uma separação que eu acho supérflua, sendo motivada, enquanto tal, por uma concepção materialista (burguesa) do processo histórico e fenomenológico. Em segundo lugar, eme brilhantemente aponta que é a narrativa do holocausto que é usada como cassetete moral e não qualquer evento associado a ele; demonstrando assim que os efeitos disciplinares do holocausto podem ser compreendidos melhor como um regime de verdade. Ele torna certas coisas cognoscíveis e outras incognoscíveis.

Finalmente, porque o liberalismo assume que o conhecimento é naturalmente neutro e que a verdade é livre de valores, ele nos faz crer que apenas seus inimigos (como nós) “manipulam” o conhecimento. Essa manipulação eles chamam de propaganda. Na melhor das hipóteses, porém, a propaganda deveria meramente designar o conhecimento, porque o modo como os estudiosos liberais a descrevem é exatamente como o conhecimento opera, ponto. É irônico que o liberalismo acusou o fascismo de propaganda, porque longe longe de propagandizer, ele meramente demandava que seus súditos entendessem que o conhecimento manipula e aceitassem as possibilidades de manipulação.

Como o fascismo entende o funcionamento do conhecimento?

Enquanto o capitalismo e o comunismo, as duas filosofias políticas liberais dominantes, assumem que as bases biológicas e econômicas de ser humano, a igualdade humana e a primazia da busca do conforto (capitalismo) ou produção mecânica (comunismo), o fascismo assume que o humano é uma criatura narrativamente impulsionada que deve ser inspirada ao sacrifício, ao compromisso e à disciplina. Para muitos, ver o comunismo descrito como uma filosofia política liberal pode parecer absurdo. Mas, quando ele é estudado epistemicamente, se descobre que não há nada no comunismo que desafie o homem econômico liberal e sua dissociação da Tradição e da valoração heroica. Longe das estratégicas econômicas de “terceira via”, essa é a diferença crucial entre liberalismo e fascismo.

O conhecimento fascistas nunca é neutro. Ele jamais produz nada acidentalmente. E ele jamais vem sem um preço. Derrida cunhou a expressão “lógica de parergonalidade” para nomear o modo pelo qual o establishment de qualquer sistema como um sistema sugere um para além de si; consistindo naquilo que o sistema exclui seja por virtude do que ele não pode compreender ou do que ele proíbe de modo a realizar seus objetivos sistemáticos. Os intelectuais fascistas sob a tutela de Giovanni Gentile utilizaram uma conceitualização e uma crítica da verdade burguesa liberal similares. Gentile, então encarregado da criação de uma pedagogia fascistas – e assim semeando a própria base de uma episteme fascista – estava preocupado com o que a compreensão liberal do conhecimento deixava de fora, e mais importante, o que ela produziu com o que ela incluía. Ele concluiu, como Nietzsche, que a forma burguesa de vida (especificamente anglo-saxônica) estava construindo os limites de possibilidades humanas nos termos mais medíocres e vulgares, assim normalizando e mesmo exaltando a covardia, a ganância e a indiferença.

O fascismo entendeu que o “povo italiano” precisava ser criado, mas apenas em termos muito específicos. De modo a fazê-lo, eles se dispuseram a controlar e dirigir os regimes de verdade da nação. Assim como o sistema burguês liberal de produção da verdade garante que nos valoremos o materialismo e o conforto acima de tudo, o governo fascista buscou limitar o conhecimento disponível àquilo que inspira o povo ao orgulho, à responsabilidade, à identidade concentrada e a um altruísmo estreitamente definido. Através da Romanità, o culto da grandeza romana, os fascistas literalmente tentaram implementar a bela formulação nietzscheana da História: “A História deve falar apenas do grande e único, do modelo a ser emulado”. Isso não era propaganda vulgar ou lavagem cerebral, mas ao invés um uso mais nobre e heroico do conhecimento.

Recentemente um leitor do Counter-Currents me admoestou por sujeitar meu filho a uma restrição e direção similares do conhecimento e do desejo. A suposição dele ou dela, eu presumo, era de que “não se pode pensar pelos filhos e se deve deixá-los livres para que se tornem quem eles podem ser”. Um entendimento mais burguês do conhecimento eu dificilmente poderia imaginar. Eu tive que assumir enquanto olhava espantado para o site que esta pessoa acreditava que entregar meu filho para o liberalismo e permitir que ele – o porta-estandarte de nossa espécie, o futuro do nome de minha família – vague sem direção de um estacionamento de shopping a outro é algo mais nobre, e mais valioso para nossa espécie, do que ensiná-lo sobre Grécia, Roma, SEUS Deuses, e os milhares sobre milhares de exemplos de coragem, honra, decência, brilhantismo, maestria e irmandade nutridos por nosso povo. Não, você está certo caro leitor, Rua Sésamo e sua moralidade multicultural nos servem muito melhor. Mas eu estou divagando.

“Que extraordinária falta de livros exsudando força heroica em nosso tempo”, meditou Nietzsche, enquanto ele ponderava a “luta de conhecimento contra conhecimento”. É essa luta na qual devemos estar engajados – não necessariamente a luta para limpar etnicamente a America liberal. Greg Johnson uma vez disse “Em uma sociedade nacionalista branca nós ainda estaremos discutindo sobre legalização das drogas, direitos homossexuais, ambientalismo, aborto, etc…” E ele está certo, a não ser que nós descontruamos epistemicamente a concepção burguesa do humano que torna o Estado-nação moderno possível. Lembre, as verdades, os conceitos que possuem a mais alta autoridade na forma de vida liberal, não são construídos apenas para manter essa forma de vida, mas para criar um certo tipo de humano. Se nós criarmos um Estado liberal totalmente branco, nós não teremos feito absolutamente nada para evitar o declínio de nossa espécie. Porém, se nós pudermos reconceitualizar nossa guerra em termos nietzscheanos, com um entendimento profundo de nosso verdadeiro inimigo, nós ao invés criaremos uma pátria na qual um homem baseado em direitos em guerra com o mundo natural e seus próprios instintos será impensável e incognoscível.

O fascismo foi fundado sobre o pensamento heroico e aristocraticamente radical do Contra-Iluminismo (um termo simpático, mas discutível, para as correntes de pensamento europeu que se opuseram aos vários movimentos em direção à padronização e degradação culminando na modernidade oitocentista) e buscou ressacralizar a vida através de mitos, lendas e narrativas de grandeza, força e honra. Ele criou uma política para reestabelecer a hierarquia, a vontade e uma estimativa mais natural do humano – tudo com uma vontade de criar um novo homem. Em outras palavras, ele estava rompendo com a episteme liberal, não para liberar um mercado, mas para criar um homem mais nobre, heroico e viril. O fascismo compreendeu que todo conhecimento é construído para manipular entendimento e comportamento. Nenhum conhecimento é neutro.

Um famoso cristão disse, “a verdade o libertará”. Nós sabemos, porém, que ela apenas o libertará para ser manipulado por outra verdade. Já passou o tempo para que nós “imaginemos o inimaginável”, para que transvaloremos os valores liberais, e abracemos completamente o Contra-Iluminismo – o único inimigo epistêmico que o liberalismo já conheceu – e o poder revolucionário da Nova Direita. Como Evola explica, até que uma escolha e comprometimento de tal magnitude sejam feitos, nós podemos ser utilidade para a episteme “democrática, burguesa e humanista” que corresponde “com o advento de um tipo humano inferior”, mas nunca para um no qual o homem é natural, hierárquico ou obediente à dureza e exatidão na qual a grandeza prospera.

Source: http://legio-victrix.blogspot.com/2012/08/epistemologia-e-nova-direita.html [3]